sábado, 20 de junho de 2009

DIPLOMA – A entrevista ao Blog do Barata

Guilherme Barra cultiva a convicção de que a decisão do STF, extinguindo a obrigatoriedade de diploma de jornalismo para o exercício da profissão, não deverá conspirar contra os profissionais de melhor qualificação. “As empresas continuarão a contratar jornalistas diplomados, quase sempre depois de um estágio em suas redações, como se faz hoje. Vale lembrar que já há alguns anos os jornais de todo o país, inclusive de Belém, têm em seus quadros, contratados ou não, profissionais sem formação superior em jornalismo, em áreas mais especializadas, como culinária, moda, medicina, psicologia, arquitetura, direito”, sublinha, na entrevista concedida ao Blog do Barata, que segue abaixo.

Qual a sua avaliação sobre a decisão do STF de sepultar a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista?

Parece chato, mas avalio com comparações que até viraram lugar comum quando se fala sobre o assunto. Vou dividir a imprensa paraense em três fases: 1ª - à época de O Estado do Pará, A Província do Pará e Folha do Norte, em sua maioria os jornalistas eram escritores, poetas, contistas, sem formação superior, no máximo, alguns exerciam o magistério como professores de curso primário ou técnico. Eram muito bons jornalistas; 2ª - nesta fase, dos anos 50 ao início dos anos 80 (a obrigatoriedade do diploma ocorreu em 1969 e apenas cinco ou seis estados possuiam universidades dotadas com curso de Comunicação Social; no Pará, o primeiro curso, o da UFPA, foi instalado em 1976, salvo engano, porém o MEC só o reconheceu em 1981), a Folha do Norte, que entrara em declínio nos anos 60, A Província do Pará, O Liberal (já de propriedade do engenheiro Ocyr Proença; pertencera ao PSD - Partido Social Democrático), Folha Vespertina e A Vanguarda (fechada em 1963) e Jornal do Dia mantinham em suas redações os primeiros profissionais com curso superior, além de colaboradores. Eram advogados, engenheiros, médicos, professores universitários. Todos bons jornalistas. Mas, a grande renovação na imprensa paraense ocorreu em 1966, quando Romulo Maiorana comprou O Liberal. Preocupado com o reduzido quadro de repórteres e a qualidade editorial do jornal, ele iniciou uma reforma na Redação contratando de início cinco acadêmicos de Direito e no ano seguinte mais dois, além de uma universitária de Biblioteconomia, todos comandados por um grande profissional, cuja formação era de nível médio. Anos depois, o comando passou a um outro jornalista, já de formação em Direito. E por que estudantes de Direito? Segundo Romulo Maiorana, eram os que melhor se encaixavam na labuta do jornalismo não só pelo conhecimento acadêmico, mas principalmente de direitos sociais, tão necessários ao profissional de comunicação; 3ª - a partir de 1982, A Província do Pará, que desde os anos 50 tinha em seu quadro profissionais com curso superior, O Liberal e o recém lançado Diário do Pará iniciaram a contratação dos primeiros profissionais formados em Jornalismo, os quais passaram a ser maioria hoje nas redações em função da obrigatoriedade do diploma. O mesmo não acontecendo em relação a fotógrafos e diagramadores, obrigados ao registro de jornalista, mas sem a necessidade de curso superior. Acredito que o conhecimento acadêmico valoriza o profissional (há alguns anos, entrevistado por um estudante de Comunicação para um TCC, me posicionei contra a obrigatoriedade, mas favorável ao diploma para a formação acadêmica do profissional de jornalismo). Contudo, é indiscutível que é na Redação de jornal ou televisão que este se forma, pois as faculdades de jornalismo praticam basicamente a teoria. Reproduzo aqui alguns trechos do relatório do ministro Gilmar Mendes na recente decisão. " ... conclui então o MPF que “os requisitos principais para ser um bom jornalista, quais sejam, bom caráter, ética e o conhecimento sobre o assunto abordado, não são matérias a serem aprendidas na faculdade, mas no cotidiano de cada indivíduo, nas suas relações intersubjetivas, de forma que o exercício da profissão em comento prescinde de formação acadêmica específica”. Mais adiante, ao passar a analisar o julgamento do mérito da questão, Gilmar Mendes diz: "Poderão as empresas de comunicação estipular critérios de contratação, como a especialidade em determinado campo do conhecimento, o que, inclusive, parece ser mais consentâneo com a crescente especialização do jornalismo no mundo contemporâneo". Por fim, o ministro-relator ao conhecer do recurso e a ele dar provimento: "O Decreto-Lei n° 972, também de 1969, foi editado sob a égide do regime ditatorial instituído pelo Ato Institucional n° 5, de 1968. Também assinam este Decreto as três autoridades militares que estavam no comando do país na época: os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando das atribuições que lhes conferiu o Ato Institucional n° 16, de 1969 e o Ato institucional n° 5, de 1968. Está claro que a exigência de diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar (grifei). Fica patente, assim, que o referido ato normativo atende a outros valores que não estão mais vigentes em nosso Estado Democrático de Direito (...) este Decreto-Lei n° 972/1969 não passaria sob o crivo do Congresso Nacional no contexto do atual Estado constitucional, em que são assegurados direitos e garantias fundamentais a todos os cidadãos".

Na sua opinião, soa plausível o temor de que a supressão da obrigatoriedade do diploma para jornalista possa aviltar a mão-de-obra, ou a própria disputa pelo mercado se encarregará de obrigar o patronato a privilegiar a melhor qualificação e a competência profissional?

Acredito que não. As empresas continuarão a contratar jornalistas diplomados, quase sempre depois de um estágio em suas redações, como se faz hoje. Vale lembrar que já há alguns anos os jornais de todo o país, inclusive de Belém, têm em seus quadros, contratados ou não, profissionais sem formação superior em jornalismo, em áreas mais especializadas, como culinária, moda, medicina, psicologia, arquitetura, direito. É inegável que, com a obrigatoriedade do diploma, sumiu do dia-a-dia das redações aquela pessoa que "tem o sangue de jornalista nas veias" ou, ao menos, se ela ainda existe, não teve mais chance de mostrar sua vocação.

Na sua interpretação, com a autoridade que lhe conferem sua reconhecida competência e probidade profissional, e também a experiência como dirigente sindical, quais as exigências que essa nova realidade deverá impor à categoria e, por extensão, à Fenaj e aos sindicatos de jornalistas?

Como categoria, ela já estava enfraquecida e assim ficará. Aliás, é curioso que enquanto a maioria das categorias se fortaleceu ao se filiarem às centrais de trabalhadores, com a dos jornalistas ocorreu o inverso. Acredito que isso se deu com a transformação da imprensa em um grande negócio empresarial, onde os interesses comerciais é que contam. Os sindicatos também vão continuar enfraquecidos, apenas desempenhando o seu papel de negociador salarial.

No caso da grande imprensa paraense há uma visível crise de credibilidade. Até que ponto, no seu entendimento, isso é determinante para as minguadas tiragens dos nossos jornalões e como esse quadro de inocultável descrédito poderá ser revertido?

A crise de credibildade não é só da grande imprensa paraense. É da grande imprensa brasileira. São diversos os fatores na minha opinião, entre eles, repito, ao se transformarem em um negócio empresarial, onde o lucro é essencial. Logo, os interesses comerciais dos donos das empresas jornalísticas são patentes, e isso reflete nos leitores, notadamente, entre os formadores de opinião, que passaram a contar com outras ferramentas de informação com os adventos da televisão e internet. Costuma-se até dizer que essa queda nas tiragens começou quando as redações foram dominadas pelo marketing, ou seja, em primeiro plano nos jornais está o faturamento publicitário. Claro que para essa crise de credibilidade, no caso do Brasil, se somam os interesses políticos, principalmente partidários - na imprensa norte-americana, por exemplo, os jornais não mascaram suas definições partidárias, mas o fazem com absoluta transparência e independência. Por isso mesmo, a queda nas tiragens e até fechamento e venda de jornais nos EUA não se dão por conta de credibilidade. Ela já vinha se registrando com a inegável influência da internet e se acentuou com a crise financeira internacional. Tanto que é na web que os jornais de todo o mundo estão buscando uma das saídas para aliviar a crise. A televisão e a internet, sem dúvida, também são um dos fatores que contribuem para a queda nas tiragens dos jornais de Belém, que, diga-se de passagem, com algumas alternâncias para mais antes da era da televisão, sempre foram pequenas comparando-se com o número de habitantes do estado. Mas, isso é uma outra história.

18 comentários :

Anônimo disse...

REGISTRO DE JORNALISTA PERDE SENTIDO (Agência Globo) Caderno Poder (Liberal)

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, afirmou ontem em São Paulo, que a decisão da Corte de ACABAR com a PROFISSÃO DE JORNALISTA, é irreversível. Segundo ele, o registro profissional junto ao Ministérios do Trabalho, antes obtido só com o diploma de jornalismo, "perde o sentido". "Esse registro (no Ministério) na verdade perde o sentido. Aquilo que eventualmente exigir registro não terá nenhuma força política".
Para Gilmar, não será "viável juridicamente" a elaboração de uma nova lei da regulamentação de jornalista, com a exigência do diploma, como foi sugerido pelo Ministro das Comunicações, Hélio Costa.....

Gilmar voltou a dizer que a decisão de acabar com a regulamentação da profissão de jornalista, deverá criar um "modelo de desregulamentação" de outras profissõesque não exigem aporte científico e treinamento específico"......

A porteira está berta. Gilmar parece que também tem bronca de outras profissões.
Antes de nossos filhos prestarem vestibular, teremos que pesquisar junto ao Supremo se há algum processo de alguma classe patronal, tentando acabar com a profissão escolhida por eles.
Corremos o risco de permanecer apenas três profissões: Médico, engenheiro e advogado.
Os Cursos Tecnológicos de apenas 2 anos e meio, querem ser reconhecidos com de nível superior.
E agora José? Ops, e agora Gilmar?

Anônimo disse...

Do caramba, o mestre sabe o que fala. Se vc pegar um exemplar de um jornal de décadas passadas, vc sente a diferença em tudo. Os intelectuais de outras profissões sumiram das redações. Vários motivos levaram a isso, o diploma é um deles. O outro é o salário aviltante. E vamo combinar, que cada um no seu quadrado. hehehe

Anônimo disse...

Parabéns ao Barra, competência comprovada. Porém é bom lembrar, órgão de imprensa é uma empresa que no final do mês precisa pagar salários, impostos e insumos. Jornalista sem visão comercial é coisa do passado muito passado. Relacionar o fator comercial com credibilidade tambem é perigoso. Os blogs não tem o fator comercial preponderante no entanto a credibilidade é baixa segundo as pesquisas. Fazer jornalismo sem propaganda é duvidoso.Todo mundo se pergunta, quem banca o Lúcio Flávio? Ele vive de que? E o Barata que passa o dia todo no Blog? Mais uma vez parabéns pelo debate.

Anônimo disse...

Credibilidade nada tem a ver com diploma. Segundo o Ibope os blogs ainda perdem feio para os jornalões.Tanto que os blogs recorrem a opnião de anônimos para aumentar a audiência. O blogueiro em busca da tal audiência apenas levanta a bola para receber cortadas na maioria irresponsáveis e mentirosas mas que geram comentários.Blogueiro que aceita comentario anônimo não é jornalista, mas apenas administrador da inveja e maldade alheia, que tentam abalar a imagem de gente de bem indefesa. Onde esta jornalismo nisso?

Anônimo disse...

Veja por onde fica a credibilidade dos blogs: Vic era íntimo do Juca, agora brigou e fez um blog para criticá-lo e aproveita para cutucar o Barata que parece ter medo do deputado. E o pior: o blog do bacana, desqualificado, misto de coluna social e comentarista politico, tirando sarro dos dois jornalistas. Pode?

Anônimo disse...

valeu sr. Barra! são as palavras dos mestres que direcionam a humanidade nos caminhos da luz e da evolução!

Anônimo disse...

Os melhores jornalistas do Brasil não sabem o que é o Curso de Jornalismo. Portanto a justiça desta vez acertou na mosca!

Anônimo disse...

Blogueiro é uma coisa e Jornalista é outra coisa bem diferente. Bem mesmo!

Anônimo disse...

Guilherme Barra é um mestre.
Inteligente, informado, articulado, preciso.

É de opiniões assim que precisam nossos jovens jornalistas. Para que, quem sabe um dia, possam escrever assim também.

A presença de Guilherme Barra dignifica qualquer espaço informacional.

Obrigado por mais esta lição, mestre.

Anônimo disse...

Jornalista ético e sério jamais usa off e muito menos comentários de anônimos que não tem qualquer compromisso com a verdade. Os tribunais já estão cheios de ações contra blogueiros que se escondem como anônimos. Tomara que isso cresça.

Anônimo disse...

Égua, agora vou assinar meus comentários, rsrsrs. Escolhi ter o nome de Machado da Vida. Só pq vcs querem. Doido, como tu queres que eu acredite em cegonha, pô, tem cara que assina até como Jesus. Tu acreditas se quiseres.

Anônimo disse...

O das 15:37 deve ser jornalista com diploma. Grande dificuldade de interpretação.

Anônimo disse...

Em Belém, jornalista sem tino comercial vira blogueiro, ante-sala da pobreza.

Anônimo disse...

O trabalho é sagrado o local um acidente,já dizia um jornalista esportivo,é verdade,também, que o diploma não dá competência a ninguém mas nos dias atuais não basta só credibilidade,respeito,ética,compromissso,valores que servem a qualquer profissional é necessário sim ter uma visão mais universal e humana do mundo e a universidade é um local onde se pode exercitar, o contato com idéias, valores conhecimento, a democracia e o respeito pelas diferenças.Sou a favor do diploma em qualquer situação,inclusive para os nossos políticos chega de tanta ignorância,na atual conjuntura o diploma ainda faz diferença.O Barra,o Lúcio e o Barata são excessões,não vale citar como exemplo.Então,tá!!Lindinha formada em Direito na UFPª

Anônimo disse...

Guilherme Barra: você é tão elegante e inteligente. Poucos alcançam isso. Como você conseguiu trabalhar no Diário? Ainda não havia lido nada parecido como sua entrevista - de altíssimo nível. Você é muito bom profissional. E o jornalista do blog soube perguntar. Parabéns. Espero um dia poder ler artigos seus.

Anônimo disse...

Barata.
Afinal qual a origem de tua renda?
Qual a dificuldade de esclarecer ao publico algo tão simples?

Anônimo disse...

Não sou procuradora de ninguém, mas para que o anônimo das 8h47 quer saber do que vive o Barata? Qual sua renda? É proibido escrever? Exercer sua profissão? Jornalista dono de blog está em pleno exercício de sua profissão. Para isso não é preciso ter diploma e nem publicar cópia do contra-cheque e da declaração de renda. Por um acaso o sr. anônimo está preocupado com as finanças do sr. Barata? Quer saber o que ele tem na despensa e na geladeira? Se paga suas contas? Se precisa todo o mês usar todo o cheque especial? Ora, sr. anônimo, bem se vê que você não é jornalista. O cara que é jornalista sempre vive com pouco dinheiro; aprende a se privar e nem pensa em ser consumista, até porque seus valores são outros (ele conhece muito bem o mundo cão e como os reis e seus castelos se transformam em pó). Trabalha, ganha muito pouco; educa seus filhos e escreve em seu blog. Acha isso difícil? Então, tente exercer a profissão de jornalista.

Anônimo disse...

E para ter blog não paga nada. É o Barata sempre incomodando. Parabéns.